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SALVE O RIO JOSÉ PEDRO[1]

Professor Walter Mendes Monteiro

            Conta-se que no início do povoado de Ipanema (o então Povoado do Rio José Pedro) uma pessoa mudou para esta região porque lhe falaram que aqui jacutinga dormia na torre da Igreja Católica e piabanha pulava na cauda de animais, quando estes estrumavam na água, nos vaus do Rio José Pedro..
            Fui conhecer jacutinga no Paraná, na década de 1960, e por meio de fotografias. Piabanha saltar acima d’água 50cm para pegar alimento ainda vi várias vezes no período de 1946-1960.
            Apenas para ilustrar e lembrar a quantidade de peixes que existiam no Rio José Pedro, que um de seus afluentes da margem direita recebeu o nome de Córrego do Piabanha, em virtude de piabanhas subirem por este córrego e serem facilmente apanhadas pelos moradores, no princípio do povoamento de Ipanema.
            E, atualmente, o que tem o Rio José Pedro? Poluição, águas barrentas e peixe quase nenhum. Parece que é um castigo da própria Natureza. Porque trocaram o nome de vila de José Pedro para Ipanema, que em língua aborígine significa “água ruim, água imprestável, rio sem peixe ou ruim para pesca”.
            Quais as causas que extinguiram em pouco tempo (menos de 172 anos) os peixes do Rio José Pedro?
            Apresenta-se a seguir algumas causas que concorreram e concorrem para acabar com os peixes em qualquer curso d’água, neste caso específico do Rio José Pedro:
            1ª-A devastação das florestas e conseqüentemente, as queimadas das mesmas. As enxurradas, sem florestas que são barreiras naturais, conduzem grande quantidade de material orgânico e inorgânico para os cursos d’água prejudicando a vida dos mesmos. Por outro lado sem florestas ocorrem algumas alterações profundas no clima regional: secas prolongadas e chuvas torrenciais com suas enchentes arrasadoras.
            2ª-A falta de árvores, nas margens dos cursos d’água. As árvores projetam sobra, fornecem alimentos aos peixes, suas raízes servem de barreiras às águas e abrigo aos peixes. Aqui é bom lembrar que o nome do Rio José Pedro e a origem do povoamento desta região estão ligados a uma árvore que margeava este rio onde foi lançada a histórica frase: “ATÉ AQUI CHEGOU JOSÉ PEDRO”, primeiro forasteiro a penetrar nestas paragens. Onde estão as figueiras? Parodiando o poeta Augusto de Lima.
            3ª-A pesca predatória ou irracional (uso de bombas de dinamite, tarrafas, rede, coador, chiqueiro, baterias...) acabam com os peixes.
            4ª-O o abuso dos biocidas nas atividades agropecuárias. Os resíduos tóxicos são conduzidos para os cursos d’água envenenando os peixes e outros animais.
            5ª-A construção de estradas sem levar em conta a preservação do Meio Ambiente.
            6ª-A falta de chuvas e enchentes constantes no verão. Pois nas primeiras enchentes ocorrem as piracemas (desova dos peixes), os peixes sobem para as lagoas que localizam nas margens dos cursos d’água e se não ocorrer outras enchentes para manter estas lagoas ou permitir o retorno dos peixes adultos ou filhotes para o curso d’água de origem, morrerão ou serão apanhados pelos predadores (animais, inclusive o homem). Em alguns Rios de Minas Gerais os Pescadores Amadores, a SUDEPE e Polícia Florestal executam a : “OPERAÇÃO ARRASTÃO” que consiste em recolher os peixes das lagoas e lançá-los nos Rios mais próximos.
            7ª-As indústrias ao lançar os resíduos nos cursos d’água modificam a vida destes. No caso do Rio José Pedro são: máquinas beneficiar arroz e café, laticínios e fábricas de cachaças,etc.
            8ª-As redes de esgotos das cidades, sem nenhum tratamento, provocam a morte da fauna e flora aquática em face dos produtos químicos e grande quantidade de dejetos humanos.
            9ª-A construção de barragens, também, prejudica o movimento da população de peixes, se não forem construídas as escadas de acesso para os mesmos.
            10ª-Até mesmo a pesca amadora pode prejudicar o ritmo da população de peixes se não for res-peitada a época da piracema.
            Este é o diagnóstico assustador mas realista dos motivos da quase extinção dos peixes no Rio José Pedro. Porém nem tudo está perdido. Cito aqui o exemplo do Rio Tamisa que banha Londres, capital da Inglaterra. Era um dos mais poluídos do mundo. Segundo informações já se pode pescar neste rio nos últi-mos anos.
            Penso que o primeiro passo em defesa do Rio José Pedro já foi dado. Refiro-me a esta reunião de hoje. Espero que seja a primeira de uma série de reuniões todas voltadas para salvar a fauna e a flora aquática do Rio José Pedro.



[1] -O artigo foi escrito para uma palestra e foi publicado no jornal: “Tribuna do Leste”: Manhuaçu – MG, 05-06-1983.

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RIO JOSÉ PEDRO

Walter Mendes Monteiro

01-    UM POUCO DE HISTÓRIA

01.01-Primitivos Habitantes: Nos atuais territórios de Minas Gerais e do Espírito Santo viveram temporário ou permanente mais de uma centena de tribos ou povos aborígines.
            Os principais aborígines que viviam no Vale do Rio José Pedro eram os: aymoré (ou botocudos) e puri. Os aymoré (ou botocudos) por causa de suas lutas em defesa do modo de viver e do seu território podem ser considerados os guardiões da Mata Atlântica. Ambos os povos foram quase extintos pelo massacre dos brancos e suas doenças[1].
            Conta-se que primeiro forasteiro a entrar no Vale do Rio José Pedro foi José Pedro de Alcântara que deixou gravado em figueira a inscrição: ”ATÉ AQUI CHEGOU JOSÉ PEDRO”. Segundo a tradição esta árvore localizava na localidade Varginha, Município de Chalé - MG, inundada pela as águas da barragem da PCH de Varginha. Por este fato o rio passou denominar-se: Rio José Pedro. Este acontecimento tudo indica que ocorreu antes de 1840.
01.02-Antigo Limite: O Rio José Pedro até a segunda parte da década do século XX era o limite entre os atuais Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo. Logo toda sua margem direita fazia parte do atual Estado do Espírito Santo. O limite deslocou por alguns anos entre o divisor de águas do Rio José Pedro e Rio Mutum e depois do acordo entre os dois Estados foi demarcado para o atual limite.
01-03-Território de coronéis: No Vale do Rio José Pedro três coronéis se destacaram pela dominação nas três primeiras décadas do século XX: coronel Chichico Gomes, no atual Chalé – MG, coronel Osório, no atual Mutum, e coronel Calhau, em Ipanema - MG. Sendo que o coronel Calhau foi articulador regional do deslo-camento dos limites entre os dois Estados.
02-UM POUCO DE GEOGRAFIA:
02.01-Meio Ambiente: O Vale do Rio José Pedro era coberto pela densa, exuberante e variada Mata Atlân-tica. Os cursos d’águas era mais volumoso e pouco poluídos.Tanto a fauna geral como a fauna aquática era abundante e diversificada. Por causa da ocupação humana desordenada, o abuso das queimadas e da poluição toda esta imensa riqueza natural foi quase extinta. Hoje resta pouco vestígio da Mata Atlântica. Muitas espécies foram extintas. No caso da fauna aquática há um grande agravante a construção de uma barragem, sem escadas para os peixes, no Rio Manhuaçu, próximo à cidade de Aimorés - MG e a construção da Barragem de Mascarenhas, em Baixo Guandu – ES.
02.02-O Rio: O Rio José Pedro nasce na Serra do Caparaó, na divisa de Minas Gerais com Espírito Santo, em uma altitude de 2450m. Na divisa intermunicipal de Iuna – ES e Alto Caparaó – MG. O Rio José Pedro é divisor intermunicipal, respectivamente, Iuna - ES e Alto Jequitibá; Iuna – ES e Manhumirim – ES e alcança a vila de Pequiá (Iuna – ES), na BR – 262. Penetra no território mineiro.
            Os municípios mineiros além dos já citados banhados pelo Rio José Pedro são: Martins Soares, Du-randé, Lajinha, Chalé, São José do Mantimento, Conceição de Ipanema, Ipanema, Taparuba, Pocrane e Ai-morés.
            Os principais afluentes do Rio José Pedro acham-se na margem direita, são: Rio Claro, Ribeirão São Domingos, Ribeirão Cobrador e Rio Mutum. O principal afluente da margem esquerda é o Ribeirão Pocrane.
            O Vale do Rio José Pedro acha-se espremido entre o Rio Manhuaçu e Serra do Caparaó na divisa com o Estado do Espírito Santo.
            A foz do Rio José Pedro no Rio Manhuaçu situa-se na tríplice divisa de: Pocrane, Aimorés e Santa Rita do Itueto, próximo à localidade de Santa Santaninha (Santa Rita de Itueto).
            O Rio José Pedro próximo à cidade de Ipanema apresenta-se vários meandros.
02.03-Situação Atual: Grande parte dos seus afluentes como leito principal estão assoreados. As águas do Rio José Pedro estão poluídas pelos dejetos lançados diretamente nele pelos: povoados, vilas e cidades; pelas indústrias e pelos biocidas empregados na agropecuária.

03 – IMPONTÂNCIA DO RIO PARA CONCEIÇÃO DE IPANEMA

            Mais de 90% área do município de Conceição de Ipanema está no vale do Rio José Pedro.
            Os afluentes do Rio José Pedro da margem direita em território de Conceição de Ipanema são: Cór. da Saudade, Cór. Conceição, Cór. Santa Maria, Cór. Palha Branca e da margem esquerda são: Cór. Do Funil, Cór. do Angelim, Cór. Santa Silvéria, Cór da Barraca, Cór. do Mexerico e Cór. do Retiro.


[1] - Os krenak que vivem em Residência, distrito de Resplendor – MG, margem esquerda do Rio Doce e outras partes do Brasil são os sobreviventes dos aymoré. Os puri restam menos de cem pessoas.


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A PÁSCOA
Walter Mendes Monteiro*


01 – INTRODUÇÃO: A Páscoa é uma festa religiosa do: Judaísmo[1] e Cristianismo[2].
02 – ORIGEM E INSTITUIÇÂO: A origem e a instituição da Páscoa acham-se no livro Êxodo[3] 12, 1-28. Iave [Jave), Deus, “sou aquele que sou”] ordena-se a Moisés[4] e a Aarão[5] que comunicassem aos hebreus para sacrificar um cordeiro e o sangue dele fosse passado nos portais de cada casa. Era o sinal (a senha) para poupar da morte os primogênitos dos hebreus porque os filhos dos egípcios e de quem deixassem de fazer o sacrifício seriam aniquilados pela passagem (Páscoa) de Iave na-quela noite. Esta comemoração segundo Iave deveria ser celebrada de geração em geração.
03 – A PÁSCOA NO VELHO TESTAMENTO: Vários livros do Velho Testamento mencionam a celebração da Páscoa:
3.1 – A Páscoa é reafirmada em Levítico[6]: 23,1-5
3.2 – A Páscoa é celebrada pelos hebreus no deserto do Sinai em sua caminhada à Canaã, a Terra Prometida: Números[7]: 9,1-5.
3.3 – Moisés o líder que libertou e conduziu os hebreus pelo deserto em busca de Canaã, a Terra Prometida, chega ao fim de sua missão e apenas vislumbra o Vale de Canaã porque morrerá antes de alcançá-lo. Por ordem de Iave Moisés escolhe o seu sucessor Josué[8] que deveria ocupar e dividir o Vale de Canaã. Moisés recorda para os hebreus a celebração da Páscoa: Números: 28,16
3.4 – A comemoração da Páscoa é relembrada no livro de Deuteronômio[9]: 16,1.
3.5 – O livro de Josué descreve a celebração da Páscoa após passagem do Rio Jordão pelos hebreus. Josué[10]: 5,10-12.
3.6 – Josias, um dos reis dos hebreus ordena a celebração da Páscoa: 2º Reis[11]: 23,21-23.
3.7 – Por ordem Ezequias[12] há celebração da Páscoa. 2º Crônicas[13] 30, 1-2.
3.8 – A celebração da Páscoa pelo rei Josias é relembrada em 2º Crônicas: 35,1-2.
            A Páscoa permaneceu como a festa antiga, central, principal e mais importante na tradição judaica. A Páscoa para os hebreus significa, também, a passagem do mar vermelho. Foi uma traves-sia radical: saída da escravidão no Egito para peregrinação pelo deserto em busca de Canaã.
4 – A PÁSCOA NO NOVO TESTAMENTO:
4.1 – ANTECEDENTES: Jesus Cristo é o elo e a ligação entre o Velho Testamento e Novo Testa-mento. Por outro lado Jesus Cristo não veio para destruir o Velho Testamento, mas sim restaurar os ensinamentos bons do Velho Testamento e implantar a plenitude do amor. Portanto deveria celebrar a Páscoa com uma visão inovadora.
4.2 – O evangelista João narra que Jesus encontrava-se em Jerusalém, no início de sua missão, na celebração da Páscoa pelos hebreus. Jo. 2,13 e Jo 2,23.
4.3 – A preparação da Páscoa pelos hebreus é lembrada por Jesus Cristo: Mt. 26, 2; Mc. 14,1; Lc. 22,1 e Jo. 13,1.
4.4 – Os discípulos de Jesus Cristo preocupados preparam a celebração da Páscoa: Mt 26,17-19; Mc. 14, 12-16 e Lc. 22,7-13.
            Logo, Jesus Cristo escolheu a festa da Páscoa judaica para celebrar a aliança definitiva  com toda a humanidade na celebração da ceia .
4.5 – Paulo na carta aos hebreus cita e relembra que pela fé Moisés seguindo as ordens de Iave instituiu a Páscoa. Hb. 11,28.
4.6 – A  NOVA DIMENSÃO DA PÁSCOA: Com a condenação, crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo, no dia da Páscoa esta celebração passa ter um novo significado e uma nova dimensão. A Páscoa passa ser a passagem da morte (pecado) para vida, em toda sua plenitude. Com a ressurreição de Jesus Cristo ocorreu uma mudança radical reabriu o caminho para o céu. A cruz sem o Jesus Cristo é o triunfo da vida sobre a morte (pecado) porque Jesus ressuscitado é atuante e atual.
5 – CONCLUSÃO: Tanto no Velho Testamento como no Novo Testamento Páscoa é: passagem, mudança e transformações. No Velho Testamento é à saída da escravidão (opressão) para liberdade em busca da Terra Prometida. Foi uma caminhada difícil, cheia de sacrifícios ao passo que Novo Testamento a Páscoa é mais ampla e abrangente: é à saída do pecado (a morte) para a vida. É a redenção de toda humanidade em busca da nova Jerusalém. (Cf. 2ª Pedro 3, 13, Ap. 21,1-5 e Ap.21,10).
            A celebração da Páscoa só tem sentido real e concreto quando há passagem, mudança radical e profunda para o melhor. Tem que jogar fora as bugigangas do: egoísmo, do individua-lismo e do consumismo e substituí-las pelo: amor ao próximo, à fraternidade e a solidariedade. Portanto, a Páscoa deve ser o momento de recriar o novo mundo. Caso contrário a Páscoa será uma festa profana apenas com fins mercantis.
²
CÁLCULO DA DATA DA PÁSCOA:

A Páscoa é uma festa móvel, baseada em um calendário lunar e ocorre no período de 22 de março a 25 de abril de cada ano. É celebrada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia do equinócio de outono no hemisfério sul.
            Para determinar esta data divida-se o ano desejado por 19, ao resto desta divisão acrescente 1. O resultado encontrado será o valor de x que deverá ser procurado na tabela a seguir:


*-Funcionário público federal aposentado pelo IBGE. Educar no ensino fundamental no Município de Con-ceição de Ipanema - MG. Com 71 anos na escola do mundo e 46 anos no mundo da Escola.


[1] -Religião dos hebreus e, atualmente, do povo de Israel.
[2] -Religião dos seguidores de Jesus Cristo: Catolicismo, Batistas, Presbiterianos, Luteranos, Assembleia de Deus, etc.
[3] -Êxodo significa saída e é o segundo livro do Velho Testamento. Descreve a situação dos hebreus no Egito, a missão de Moisés, a saída deles do Egito, a instituição da Páscoa, a travessia do Mar Vermelho e a promulgação das leis no monte Sinai.
[4] -Moisés líder escolhido por Iave [ (Jave) , Deus] para sensibilizar,tirar os hebreus do Egito, conduzi-los pelo deserto e leva-los à Canaã, a Terra Prometida. Tudo indica que Moisés era gago (Cf. Êxodo 4,10).
[5] -Aarão, porta voz, interlocutor de Moisés escolhido por Iave [(Jave), Deus].
[6] -É o terceiro livro do Velho Testamento. Mostra as leis  e ritos para que o povo hebreu seguisse.
[7] -Números é quarto livro do Velho Testamento. Tem este nome por causa do recenseamento e contagem do povo hebreu.
[8] -Josué substituto de Moisés na missão de ocupar, lutar e dividir o Vale de Canaã.
[9] -Deuteronômio é quinto livro do Velho Testamento, significa segundo a lei, descreve as leis, ritos e exortações ao povo hebreu.
[10] -O livro do Josué recebeu o nome do sucessor de Moisés e relata a ocupação, a expulsão dos antigos habitantes de Canaã e a divisão das terras do vale para as tribos.
[11]- 2º Reis é um livro do Velho Testamento que relatam os acontecimentos da monarquia do povo hebreu.
[12] -Ezequias um dos reis do povo hebreu.
[13] -2º Crônicas é um livro do Velho Testamento e narra à história do povo hebreu.
     
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